Hometown Cha-Cha-Cha

by - 1/16/2024

     

    

    Hoje venho falar sobre esse dorama que simplesmente alugou um triplex na minha cabeça. Fiquei me perguntando como era possível, um drama que eu havia abandonado no primeiro episódio, ser tão precioso, me fazendo reassisti-lo por mais duas vezes.

    No primeiro momento, eu achei que seria só um historinha de romance bem boba entre dois personagens que parecem incompatíveis e vivem se desentendendo, mas que posteriormente se veem perdidamente apaixonados. E claro, como em todo bom dorama, acompanhamos um romance principal e até um possível triângulo amoroso. Mas Homecha vai além, é uma lição sobre a vida, uma representação sobre a fragilidade da existência e tudo aquilo que nos permeia ao passar dos anos.



Hometown Cha Cha Cha nos mostra a história de uma dentista, Hye-jin, que por prezar por sua ética como profissional, acaba por pedir demissão de seu emprego em uma clínica em Seul, e por acaso do destino, abre sua própria clínica em Gongjin, uma vila costeira. Hye-jin precisa mudar seu estilo de vida para se adaptar à comunidade local, já que é vista como uma pessoa arrogante e esnobe, refletindo em dificuldades no seu negócio. Nesse processo, conta com a ajuda do Chef Hong (Du-sik), um faz tudo muito querido por todos do vilarejo, mas que também possui alguns mistérios em seu passado. 


É baseado no filme Mr. Handy, Mr. Hong de 2004.



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Uma lição sobre a sensibilidade da vida cotidiana

    Acompanhamos uma narrativa simples que não possui um grande vilão e nem um mundo sobrenatural, como em grande parte das produções atuais. O foco está no cotidiano dos personagens e seus dilemas pessoais. Acho que foi uma das poucas produções, em que realmente me importei com todos os personagens da história, até aqueles mais chatos.


    Pelo meu ponto de vista, o grande diferencial desse k-drama está na construção da comunidade local e sintonia entre os atores. Através dos acontecimentos rotineiros, conseguimos enxergar a humanidade nos personagens e o poder das pessoas em se reerguerem. 




O papel da comunidade e do estilo de vida


    No primeiro momento, aparenta ser uma história bem estereotipada, em que a personagem adota uma postura de “cidade de grande” e demonstra superficialidade por prezar pelo status social. Enquanto os demais, aparentam ser pessoas com modo de vida mais simples, que realizam trabalhos manuais e artesanais. 


    Inicialmente, podemos interpretar pelo ponto de vista da Hye-jin de que seus vizinhos são pessoas intrometidas e fofoqueiras. Enquanto ela parece agir com arrogância. Mas você já parou para pensar, sobre o primeiro e o segundo olhar que teve sobre algo ou alguém? Talvez a forma como as pessoas se mostram ao mundo, seja para lidar com seus próprios traumas.


    E é isso que vamos descobrindo, conforme conhecemos os personagens. 


    Ao longo dos episódios, acompanhamos as interações na vila, que funcionam como alívios cômicos, mas podemos observar como a vizinhança se apoia mutuamente em suas dificuldades e respeito ao modo de serem. 


    Um dos pontos que mais gostei nesse k-drama, foi a variedade nas características dos personagens. Os produtores representam várias fases da vida, desde os dilemas infantis, frenesi adolescente e amizade na terceira idade.


Alguns dos temas que encontramos no desenrolar dos episódios:

  • Acolhimento
  • Status social e posicionamento
  • Perdas e luto
  • Sonhos interrompidos
  • Divórcio
  • Não aceitação da orientação sexual
  • Maternidade


“A vida não é tão justa para todos nós. Alguns passam a vida inteira em estradas não pavimentadas, enquanto alguns correm a toda velocidade apenas para chegar à beira de um penhasco.” 



Alegrias no cotidiano


    A amizade do trio de idosas é muito legal, inclusive nos últimos episódios em que as três amigas, durante uma noite do pijama, compartilham o sentimento a respeito da idade e das limitações que ela proporciona. Isso é um fato que sempre ouvi da minha vó, sobre como é difícil lidar com o espírito jovem dentro de um corpo que não consegue mais acompanhar com a mesma autonomia, e que mesmo assim é possível enxergar satisfação ao olhar para trás e ver tudo o que viveram, podendo assim quando seu tempo chegar, poder descansar com tranquilidade.


   

    O modo como a vila cuida da comunidade idosa também é de deixar o coração aquecido, durante toda a história vemos o Chef Hong tratando Gam-ri como se fosse sua avó, e ela acaba por realizar esse papel em diversas ocasiões até mesmo com os idols do grupo DOS e a equipe de filmagens. Em paralelo, ela lida com a ausência da própria família, que se prende ao sentimento de que os pais sempre estarão lá e que sempre terão mais tempo para outra visita ou gentileza. O papel dessa personagem é especial do início ao fim. Funciona como um desfecho do ciclo, o que agrega ainda mais sobre o propósito da vida. 





    Como lidamos com personagens de todas as idades, também temos a presença de crianças no elenco, os fofos Bo-ra e Yi-jun em sua forma de lidarem com seus impasses na infância e a maturidade absurda de Yi-jun em lidar com o divórcio dos pais. Outra personagem que eu pensei que detestaria, mas que acabei gostando muito foi a Ju-ri, uma garota apaixonada pelo grupo de kpop DOS, sempre em adversidades com seu pai e sonhando em ser estilista. O relacionamento entre pais e filhos é bem presente no enredo e eles o trazem de maneira muito diversificada, daria um artigo inteiro haha. Mas, em resumo, os criadores representaram muitos tipos de emoções que podem ser cultivadas pelas partes ao longo da vida, desde a ausência dos pais, os conflitos calorosos, o distanciamento e o amor fraterno.




    Falando brevemente sobre o romance, preciso confessar que o diretor Ji era um dos meus personagens favoritos. Ele cumpre aquele papel do “segundo cara dos doramas”, ele traz a energia de bom moço, em sua forma de conciliar a equipe e todo o estilo moderno, na vida da comunidade, sua amizade com Du-sik e os cuidados com Gam-ri dão um charme. Também retrata a importância de agir e não perder as oportunidades que o tempo nos dá de forma única, você fica ponderando e então o instante já passou. A sinergia entre os três é ótima. Enquanto o diretor Ji olha para para Hye-jin com sua percepção do passado, Du-sik a olha por uma percepção mais dura, porém, admiradora.


    O desenvolvimento da personagem Hye-jin também é notável, deixando de lado a imagem de dentista esnobe e individualista, para a pessoa que todos admiram e recorrem quando precisam de apoio, a tornando o par perfeito para o Chefe Hong.


    Posteriormente, suas preocupações em relação ao seu futuro como casal também são delicadas e pertinentes, a aflição a respeito de ter filhos ou não e qual o rumo profissional, trazem complexidade aos personagens. Até que ponto as pessoas têm flexibilidade e comunicação em seus relacionamentos? 



O passado e o fardo emocional 


    Não quero dar spoilers, por isso vou falar de modo mais abstrato e genérico, mas foram as partes mais significativas de todo o enredo. Dado o contexto leve dos episódios iniciais, fui pega de surpresa. Então se prepare, porque depois do episódio 12 é tristeza, tragédia, desgraça e morte.


    Todos possuem de alguma forma um fardo emocional muito grande em seu íntimo, normalmente muito relacionado às suas bases familiares. É impossível não ter empatia por suas histórias, o luto é retratado de diferentes formas e grau, e trazendo para a realidade é algo simplesmente que aparecerá nas nossas vidas em algum momento. 


    O Du-sik como personagem principal, com um estilo de vida “YOLO” (só se vive uma vez)  nos surpreende com sua história, no começo eu o achava até chato por parecer arrogante em sua postura de “perfeito” que não erra, mas seus desenvolvimento traz muitas reviravoltas, começando pelos boatos cômicos do que ele fez em seus 5 anos em Seul após se formar. 


    E voltamos a ideia da imagem que as pessoas passam, a postura é construída partindo de algum lugar. E esse lugar pode ser um trauma, uma forma de reconstruir um significado para seguir. 


    Uma cena simples, mas que trouxe um grande significado chave, foi quando ele diz que recebeu uma mensagem da senhora Gam-ri cheia de erros de digitação, em um momento crítico enquanto vivia em Seul, e como ele reparou que nem se lembrava mais dela. E isso aqui foi uma representação perfeita do que é ser um jovem adulto moderno. Você se lembra das suas origens, guarda lembranças de infância e adolescência, dos lugares e pessoas com carinho, mas está ocupado demais trabalhando, estudando, tentando dar conta de uma vida, e vai reagindo aos acontecimentos e se distanciando dessa realidade. E quando se depara, você já é outra pessoa e nem sabe por onde andou, o tempo já passou. Du-sik decide voltar para sua cidade natal, e como consequência tem um recomeço, se tornando o Chef Hong que todos conhecem.


    É muito inteligente a forma como a produção intercala os acontecimentos, apesar de ocorrer uma ordem cronológica (assim como a vida), são situações não lineares, inesperadas, que relembram o passado, e criam perguntas para o futuro, enquanto se está preso no presente.


    O roteiro segue bem a expectativa da narrativa, dentro da proposta de 1 temporada de 16 episódios, mas como são vários personagens, os desenvolvimentos são muito secundários e rápidos, poderiam ter trabalhado mais detalhes sobre a história de alguns personagens. Mas acredito que seriam necessários mais episódios para manter a qualidade. E em comparação ao filme, realmente foi uma adaptação bem feita, que soube trazer bons personagens, que enriqueceram a história principal.


    Fotografia e trilha sonora, também são pontos positivos, esses recursos foram bem usados e conspiram para nosso estado de espírito, gerando empatia, diversão e alguns momentos até tristeza. Sou suspeita de falar, já que amo produções com temática litorânea, mas o ambiente aqui dá um toque especial! As gravações foram feitas no Porto de Pohang. (Veja esse Vlog do Canal Daria Parkkk)







    Em vista de tudo isso, eu simplesmente amei a forma como essa produção foi feita, conseguiram mostrar de maneira literal como a vida é feita de acontecimentos e situações repentinas. O roteiro transita entre situações passadas e questionamentos sobre o futuro, nos momentos corretos. Como viver no presente, pode ser uma consequência do passado, e isso pode ser interpretado de várias maneiras. E toda essa criação de atmosfera, gera o presente, um presente de um universo ficcional mas que é repleto de retratos de pessoas reais. E por coincidência, ao escrever esse texto, estava ouvindo a música do Kansas “Dust in the Wind” (tem sido um início de ano instigante…)


Nada dura para sempre, além da Terra e do céu
Isso passa voando
E todo seu dinheiro não comprará outro minuto

Porque tudo o que somos, é poeira ao vento.




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